domingo, dezembro 17, 2006

Como fazer download pelo badongo?
apertando no link que coloco em cada post vai abrir uma página que hospeda a música (badongo), é só esperar uma contagem (de 45seg) no final da página, ao lado das informações sobre a música. Depois da contagem vai aparecer uma caixa de texto com algumas letras, é só digitar as letras que aparecem na caixa de texto e depois apertar em "download your file here". Daí é só salvar e depois curtir.

Índice Geral

A

Antonio Cicero por Adriana Calcanhotto
Pelos Ares
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/08/antonio-cicero-por-adriana-calcanhotto.html

Ariano Suassuna por Antonio Nóbrega
A morte do touro mão de pau
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/poema-de-ariano-suassuna-musicado-por.html

Arnaldo Antunes
O buraco do espelho

http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/poesia-e-msica-de-arnaldo-antunes-o.html

Arnaldo Antunes por Gilberto Gil
As coisas
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/12/arnaldo-antunes-por-gilberto-gil-as.html

Augusto dos Anjos por Arnaldo Antunes
Budismo moderno
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/augusto-dos-anjos-por-arnaldo-antunes.html

B

C


Cacaso por Djavan
Lambada de serpente
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/10/cacaso-por-djavan-lambada-_116232243706473400.html

Cacaso por Djavan
Triste baía da Guanabara
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/11/cacaso-por-djavan-triste-baa-da.html

Cacaso por Maria Bethânia
Amor, amor
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/12/cacaso-por-maria-bethnia-amor-amor.html

Cacaso por Simone
Face a face
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/11/cacaso-por-simone-face-face-so-as_23.html

Cacaso por Tom Jobim, Miúcha e Chico Buarque
Dinheiro em penca
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/12/cacaso-por-tom-jobim-micha-e-chico.html

Capinan por Jards Macalé
Movimento dos Barcos
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/11/capinan-por-jards-macal-movimento-dos_20.html

Carlos Drummond de Andrade por Adriana Calcanhotto
Jornal de serviços
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/11/carlos-drummond-de-andrade-por-adriana.html

Carlos Drummond de Andrade por Belchior
Nova canção do exílio
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/11/carlos-drummond-de-andrade-por.html

Carlos Drummond de Andrade por Belchior
Toada de amor
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/11/carlos-drummond-de-andrade-por_30.html

Carlos Drummond de Andrade na voz do próprio Drummond
Consolo na praia
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/poesia-de-drummond-na-voz-do-prprio.html

Carlos Drummond de Andrade por Milton Nascimento
Canção amiga

http://musicapoesia.blogspot.com/2006/08/carlos-drummond-de-andrade_115483430491522973.html

Carlos Drummond de Andrade por Paulo Diniz
José

http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/poesia-de-carlos-drummond-_115047547227471665.html

Castro Alves por Caetano Veloso
Navio Negreiro
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/12/castro-alves-por-caetano-veloso-navio_01.html

Cecília Meireles por Fagner
Canteiros
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/poesia-de-ceclia-meireles-musicada-por_16.html

Cecília Meireles por Fagner
Motivo
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/poesia-de-ceclia-meireles-_115047483737467821.html

Cego Aderaldo por Nara Leão e João do Vale
Desafio
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/12/do-show-opinio-1964-nara-leo-joo-do.html

D

E


E.E. Cummings por Zeca Baleiro
Nalgum lugar
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/e.html

Enrique Discépolo por Caetano Veloso
Cambalache
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/10/enrique-discpolo-por-caetano-veloso-e_30.html

F

Federico Garcia Lorca por Chico Buarque e Fagner
A aurora
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/federico-garcia-lorca-por-chico.html

Fernando Pessoa por Caetano Veloso
III. PADRÃO
(Segunda Parte: Mar Portuguez)
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/08/fernando-pessoa-por-caetano-veloso-iii_05.html

Fernando Pessoa por Edu Lobo
Meus pensamentos de mágoa
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/11/fernando-pessoa-por-edu-lo_116429963879839734.html

Fernando Pessoa por Maria Bethânia
Passagem das horas
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/08/fernando-pessoa-por-maria-bethnia_07.html

Fernando Pessoa por Secos e Molhados
Não: não digas nada!
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/poesia-de-fernando-pessoa-musicada-por.html

Fernando Pessoa por Tom Jobim
Autopsicografia
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/08/fernando-pessoa-por-tom-jobim.html

Fernando Pessoa por Tom Jobim
Cavaleiro Monge
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/fernando-pessoa-por-tom-jobim.html

Ferreira Gullar por Chico Buarque e Fagner
Traduzir-se
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/ferreira-gullar-por-chico-buarque-e.html

Francisco Carvalho por Fagner
Cesta básica
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/11/francisco-carvalho-por-fagner-cesta_20.html

G

H


Hans Magnus Enzensberger por Arnaldo Antunes
Hotel Fraternitè
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/10/hans-magnus-enzensberger-p_116225150448853625.html

Haroldo de Campos por Caetano Veloso
Circuladô de fulô
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/12/haroldo-de-campos-por-caetano-veloso_01.html

Hilda Hilst por Maria Bethânia
Canção III
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/poesia-de-hilda-hilst-musicada-por.html

Hilda Hilst por Zélia Duncan
Canção VII
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/poesia-de-hilda-hilst-musicada-por_22.html

I

J


Jatobá por Xangai
Matança
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/poesia-de-jatob-musicada-por-xangai.html

João Apolinário por Secos e Molhados
Flores Astrais
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/10/joo-apolinrio-por-secos-e-molhados_31.html

João Cabral de Melo Neto em versão para teatro
Funeral de um lavrador
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/poema-de-joo-cabral-de-melo-neto-em.html

João Cabral de Melo Neto por Chico Buarque
Funeral de um lavrador
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/poema-de-joo-cabral-de-melo-neto.html

John Donne por Caetano Veloso
Elegia
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/12/john-donne-por-caetano-veloso-elegia.html

K

L

Lúcio Lins por Chico César
duas margens
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/08/lcio-lins-por-chico-csar-duas-margens_02.html

Lula Freire por Baden Powell
Feitinha pro poeta
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/11/lula-freire-por-baden-powell.html

M

Manuel Bandeira por Tom Jobim
Trem de ferro
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/08/manuel-bandeira-por-tom-jobim-trem-de_05.html

Manuel Bandeira por Paulo Diniz
Vou-me embora pra Pasárgada
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/poesia-de-manuel-bandeira-musicada-por.html

Mário de Andrade por Rolando Boldrin e Almir Sater
Viola quebrada

http://musicapoesia.blogspot.com/2006/08/mrio-de-andrade-por-rolando-boldrin-e_06.html

Mário de Sá Carneiro por Adriana Calcanhotto
O outro

http://musicapoesia.blogspot.com/2006/08/mrio-de-s-carneiro-por-adriana_05.html

Mário Quintana por Joyce
Poeminha do contra

http://musicapoesia.blogspot.com/2006/08/mrio-quintana-por-joyce-poeminha-do.html

N

O

P


Paul Verlaine e Arthur Rimbaud por José Miguel Wisnik
Soneto do olho-do-cú
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/11/paul-verlaine-e-arthur-rimbaud-por-jos_29.html

Paulinho da Viola
Bebadosamba

http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/poesia-e-msica-de-paulinho-da-viola.html

Paulo Leminski por Caetano Veloso
Verdura

http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/paulo-leminski-por-caetano-veloso.html

Paulo Leminski por Itamar Assumpção
Custa nada sonhar
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/11/paulo-leminski-por-itamar-assumpo_27.html

Paulo Leminski por Paulinho Boca de Cantor
Valeu

http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/paulo-leminski-por-paulinho-boca-de.html

Patativa do Assaré por Fagner
Sina
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/patativa-do-assar-por-fagner-sina-eu.html

Patativa do Assaré por Rolando Boldrin
Vaca Estrela e boi Fubá
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/patativa-do-assar-por-rolando-boldrin.html

Q

R

S


T

Torquato Neto por Gilberto Gil
A rua

http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/poesia-de-torquato-neto-musicada-por.html

U

V


Vinicius de Moraes
Soneto do amor total
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/soneto-de-vinicius-de-moraes-musicado.html

Vinicius de Moraes por Caetano Veloso
Poema dos olhos da amada
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/poesia-de-vinicius-de-moraes-musicada.html

Vinicius de Moraes por Maria Bethânia
Bom dia, tristeza
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/11/vinicius-de-moraes-por-maria-bethnia.html

Vinicius de Moraes por Secos e Molhados
A rosa de Hiroxima

http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/poesia-de-vinicius-de-moraes-musicada_16.html

Vinicius de Moraes por Tom Jobim e Elis Regina
Soneto de separação

http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/vinicius-de-moraes-por-tom-jobim-e.html

Vinicius de Moraes por Toquinho
Rosa desfolhada
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/10/vinicius-de-moraes-por-toquinho-rosa.html

Vinicius de Moraes por Toquinho e Vinicius
Para viver um grande amor
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/11/vinicius-de-moraes-por-toquinho-e-o.html

Vinicius de Moraes por Toquinho e Vinicius
São demais os perigos dessa vida
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/11/vinicius-de-moraes-por-toquinho-e-o_27.html

W

Waly Salomão por Jards Macalé
Mal Secreto

http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/waly-salomo-por-jards-macal-mal_13.html

W.B. Yeats por Zé Ramalho
Força verde
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/12/w.html

X

Y

Z

Zeca Baleiro
Soneto Erótico
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/soneto-e-msica-de-zeca-baleiro-soneto.html

Zé da Luz por Cordel do Fogo Encantado
Ai Se Sêsse
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/12/z-da-luz-por-cordel-do-fogo-encantado.html

Zé do Norte por Geraldo Azevedo
Meu pião
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/12/z-do-norte-por-geraldo-azevedo-meu-pio.html

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Zé da Luz por Cordel Do Fogo Encantado

Ai Se Sêsse

Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois assubisse
Mas porém acontecesse de São Pedro não abrisse
a porta do céu e fosse te dizer qualquer tolice
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Da vês que nois dois ficasse
Da vês que nois dois caisse
E o céu furado arriasse e as virgi toda fugisse

Zé da Luz

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quarta-feira, dezembro 13, 2006

W.B. Yeats por Zé Ramalho

Força verde

Ainda há pouco, era apenas uma estrela
Uma imensa tocha antes do mergulho
Agora vem à tona
Sua ira é intensa
E você deseja saber
Se há algo
Que possa acalmá-lo outra vez
Os pássaros
A lua cheia e todo o céu leitoso
E todas as formas da natureza
Mostravam a grandeza do mundo
Em lágrimas
Condenado como Ulisses
E como príamos...

Morto com seus companheiros
Morto com seus companheiros
Morto... Apareceu...
No momento em que a lua ia se elevando
E todo pranto forma a imagem do homem

Zé Ramalho sobre poema de W.B. Yeats

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Zé do Norte por Geraldo Azevedo

Meu pião

O meu pião ele só roda com ponteira
A ponteirinha é rasteirinha pelo chão

O meu pião é feito de goiabeira
Ele só roda com ponteira
Na palma da minha mão
Dança morena
No meio desse salão
Requebrando o corpo todo
No ronco desse pião
Dance na mão dance na mão
Dance na mão dance na mão
Meu pião

Zé do Norte

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segunda-feira, dezembro 11, 2006

Cacaso por Maria Bethânia

Amor, amor

quando o mar
quando o mar tem mais segredo
não é quando ele se agita
nem é quando é tempestade
nem é quando é ventania
quando o mar tem mais segredo
é quando é calmaria

quando o amor
quando o amor tem mais perigo
não é quando ele se arrisca
nem é quando ele se ausenta
nem quando eu me desespero
quando o amor tem mais perigo
é quando ele é sincero

Cacaso

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John Donne por Caetano Veloso

Elegia: indo para o leito

[...]
Deixa que minha mão errante adentre.
Atrás, na frente, em cima, em baixo, entre.
Minha América! Minha terra à vista,
Reino de paz, se um homem só a conquista,
Minha Mina preciosa, meu império,
Feliz de quem penetre o teu mistério!
Liberto-me ficando teu escravo;
Onde cai minha mão, meu selo gravo.
Nudez total! Todo o prazer provém
De um corpo (como a alma sem corpo) semVestes.
[...]
Como encadernação vistosa, feita
Para iletrados a mulher se enfeita;
Mas ela é um livro místico e somente
A alguns (a que tal graça se consente)
É dado lê-la.Eu sou um que sabe;
[...]

John Donne
(Tradução: Péricles Cavalcanti e Augusto de Campos)
(Excerto: Caetano Veloso)


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Cacaso por Tom Jobim, Miúcha e Chico Buarque

Dinheiro em penca

O mati é passo preto
Ele é muito tapereiro
Ele canta por amor
Eu só canto por dinheiro
No seu canto tem valor
No meu canto tem vintém
Ele geme a sua dor
Eu não choro por ninguém
Ninguém sabe ir pelo Catumbi
Ninguém sabe, ninguém sabe
Eu casei com ela
Fiz um filho nela
Bati muito nela
Fui feliz com ela
Se o santo cai do andor
E o barro cobre o ladrilho
Quem roubou o meu amor
E me escondeu do meu filho
Renda de filó
Carretel de linha
Jorro de cascata
Canja de galinha
Sino de Belém
Mofo de farinha
Vou cantar agora
Uma prenda minha
O mati ao meio-dia
Tá piando no soleiro
Ele canta na estia
Eu debaixo do chuveiro
Ele mora no sertão
Eu no Rio de Janeiro
Ninguém sabe ir por Andaraí
Ninguém sabe, ninguém sabe
Se o peito guarda rancor
O raio pisca o seu brilho
Do porto sai o vapor
Da vaca sai o novilho
Tem gente que faz favor
Pamonha é feita de milho
Quem roubou o meu amor
E me escondeu do meu filho
Fé de bisavó
Praga de madrinha
Laço de gravata
Bando de rolinha
Sorte de repente
Jura de modinha
Vou cantar agora
Uma prenda munha
Eu fui lá, na grota funda
Avisar meu feiticeiro
Fiquei bom do reumatismo
E ganhei muito dinheiro
Melhorei do meu cansaço
E ganhei muito dinheiro
Ninguém sabe ir pelo Buriti
Ninguém sabe, ninguém sabe
Se o cheiro muda de cor
O nego puxa o gatilho
A lucidez sai da dor
O trem de ferro do trilho
Se o vento liga o motor
E a morte presta um auxílio
Quem roubou o meu amor
E me escondeu do meu filho
Rede de cipó
Lata de sardinha
Porta de alçapão
Ceva de tainha
Bolha de sabão
Sopa de letrinha
Bucha de balão
Papo de cozinha
Meu padrinho quando moço
Era muito fazendeiro
Tirou outro do sertão
Foi gastar no estrangeiro
O dinheiro da boiada
Transferiu pro estrangeiro
Ninguém sabe ir pelo Piauí
Ninguém sabe, ninguém sabe
O avião salta do chão
O padre sai do retiro
O acaso faz o ladrão
Da espingarda parte o tiro
Do verso nasce a canção
Do sertão meu estribilho
Quem roubou o meu amor
E me escondeu do meu filho
Medo de ladrão
Noite de arrepio
Boca de fogão
Casco de navio
Pipa de papel
Ben-te vi no cio
Corda de relógio
Bomba de pavio
Tive léguas e mais léguas
Muito gado, cafezais
Sesmarias, mata virgem
Onde a vista já não vai
Extensão de terra roxa
Ia até o Paraguai
Tive até um burro preto
Que vovó deu pro papai
Eu também já tive um tio
Que virou velho gaiteiro
Que gostava de mulher
Como eu gosto de dinheiro
Era louco por mulher
Eu me amarro no dinheiro
Fui mascate no sertão
Caminhei o norte inteiro
Vendi grampo a prestação
Guarda-chuva em fevereiro
Até hoje estou esperando
A remessa do dinheiro
O mati é passo preto
De janeiro até janeiro
Ele casa no verão
Eu namoro o ano inteiro
O mati já tem bisneto
Eu ainda tô solteiro
Ele voa em liberdade
Inda tô no cativeiro
E voou pra imensidão
Eu ainda prisioneiro
Canta curió
Canta coleirinho
Sabiá da mata
Garnizé de ninho
Terra de niguém
Viração marinha
Vou cantar agora uma prenda minha
Uma vez em Nova York
Liguei pro meu feiticeiro
Que atendeu o telefone
Lá no Rio de Janeiro
Eu então falei pra ele
Procurar meu macumbeiro
Pra avisar pro pai-de-santo
Pra arranjar algum dinheiro
Pra pedir pro delegado
Pra soltar meu curandeiro
Ao doutor seu delegado
Pra soltar meu curandeiro
Mas o tal telefonema
Lá se foi o meu dinheiro
Sunga de lagarto
Dente de galinha
Sovaco de cobra
Pena de tainha
Asa de tatu
Jura de Maria
Gritos de menino
Rabo de Cotia

Cacaso

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segunda-feira, dezembro 04, 2006

Arnaldo Antunes por Gilberto Gil

As coisas

As coisas têm peso, massa, volume, tamanho, tempo, forma, cor, posição, textura, du-ração, densidade, cheiro, valor, consistência, pro-fundi-dade, contorno, temperatura, função, aparência, preço, des-tino, idade, sentido. As coisas não têm paz.

Arnaldo Antunes

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domingo, dezembro 03, 2006

Do show Opinião - 1964 (Nara Leão, João do Vale e Zé Kéti)

Cego Aderaldo por Nara Leão e João do Vale

Quem a paca cara compra, paca cara pagará!
(Peleja com Zé Pretinho dos Tucuns)


— Cego, agora puxa uma
Das tuas belas toadas,
[...]
— Amigo José Pretinho,
Eu nem sei o que será
De você depois da luta
— Você vencido já está!
Quem a paca cara compra
Paca cara pagará!
[...]
— Cego, teu peito é de aço
— Foi bom ferreiro que fez
— Pensei que cego não tinha
No verso tal rapidez!
Cego, se não é maçada,
Repete a paca outra vez!
[...]
— Disse uma vez, digo dez
— No cantar não tenho pompa!
Presentemente, não acho
Quem o meu mapa me rompa
— Paca cara pagará,
Quem a paca cara compra!
[...]
— Cego, eu estou apertado,
Que só um pinto no ovo!
Estás cantando aprumado
E satisfazendo o povo
— Mas esse tema da paca,
Por favor, diga de novo!
[...]
— Arre! Que tanta pergunta
Desse preto capivara!
Não há quem cuspa pra cima,
Que não lhe caia na cara
— Quem a paca cara compra
Pagará a paca cara!
[...]
— Agora, cego, me ouça:
Cantarei a paca já
— Tema assim é um borrego
No bico de um carcará!
Quem a caca cara compra,
Caca caca cacará!
[...]

Cego Aderaldo
(Aderaldo Ferreira de Araújo)
(Extraído do livro "Eu sou o cego Aderaldo")

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sexta-feira, dezembro 01, 2006

Castro Alves por Caetano Veloso

Navio Negreiro

I

'Stamos em pleno mar

[...]

IV

Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!

E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...

Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!

No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...

V

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!

Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...

São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão...

São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.

Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
...Adeus, ó choça do monte,
...Adeus, palmeiras da fonte!...
...Adeus, amores... adeus!...

[...]

VI

Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto!...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!

Castro Alves
(excertos: Caetano Veloso)

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Haroldo de Campos por Caetano Veloso

Circuladô de fulô

circuladô de fulô ao deus ao demo dará que deus te guie
porque eu não posso guiá eviva quem já me deu
circuladô de fulô e ainda quem falta me dá
soando como um shamisen e feito apenas com um arame
tenso um cabo e uma lata velha num fim de festafeira no pino do sol a pino
mas para outros não existia aquela música
não podia porque não podia popular aquela música se não canta não é popular
se não afina não tintina não tarantina
e no entanto puxada na tripa da miséria na tripa tensa da mais megera miséria
física e doendo doendo
como um prego na palma da mão um ferrugem prego cego na palma espalma da mão
coração exposto como um nervo tenso retenso um renegro prego cego
durando na palma polpa da mão ao sol
circuladô de fulô ao deus ao demo dará que deus te guie
porque eu não posso guiá eviva quem já me deu
circuladô de fulô e ainda quem falta me dá
o povo é o inventalínguas na malícia da maestria no matreiro
da maravilha no visgo do improviso tenteando a travessia
azeitava o eixo do sol
circuladô de fulô ao deus ao demo dará
que deus te guie porque eu não posso guiá eviva quem já me deu
circuladô de fulô e ainda quem falta me dá
e não peça que eu te guie não peça despeça que eu te guie
desguie que eu te peça promessa que eu te fie me deixe
me esqueça me largue me desamargue que no fim eu acerto que
no fim eu reverto que no fim eu conserto e para o fim me
reservo e se verá que estou certo e se verá que tem jeito e se
verá que está feito que pelo torto fiz direito que quem faz
cesto faz cento se não guio não lamento pois o mestre que
me ensinou já não dá ensinamento
circuladô de fulô ao deus ao demo dará
que deus te guie porque eu não posso guiá eviva quem já me deu
circuladô de fulô e ainda quem falta me dá

Haroldo de Campos

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