segunda-feira, agosto 07, 2006

Mário Quintana por Joyce

Poeminha do contra

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!

Mário Quintana

Para fazer download:
http://www.badongo.com/file/1191764
ou
http://rapidshare.de/files/28520929/Joyce_-_Passarinho__Poeminha_do_contra_.mp3.html

Fernando Pessoa por Maria Bethânia

Passagem das horas

Não sei sentir, não sei ser humano, conviver
De dentro da alma triste com os homens meus irmãos na terra.
Não sei ser útil mesmo sentindo, ser prático, ser quotidiano, nítido
[...]
Vi todas as coisas, e maravilhei-me de tudo,
Mas tudo ou sobrou ou foi pouco - não sei qual - e eu sofri.
Vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos,
E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse.
Amei e odiei como toda gente,
Mas para toda a gente isso foi normal e instintivo,
E para mim foi sempre a exceção, o choque, a válvula, o espasmo.
[...]
Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
[...]
Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos
[...]

Álvaro de Campos
(Excertos: Maria Bethânia)


Para fazer download:
http://www.badongo.com/file/1186584
ou
http://rapidshare.de/files/28409237/Passagem_das_horas-Invocacao.mp3.html

domingo, agosto 06, 2006

Carlos Drummond de Andrade por Milton Nascimento

Canção amiga

Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.

Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não me vêem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.

Eu distribuo um segredo
como quem ama ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.

Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.

Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.

Carlos Drummond de Andrade

Para fazer download:
http://www.badongo.com/file/1183257
ou
http://rapidshare.de/files/28349714/Can__o_amiga.mp3.html

Mário de Andrade por Rolando Boldrin e Almir Sater

Viola quebrada

Quando da brisa no açoite a flor da noite se acurvou
Fui encontra com a Maróca meu amor
Eu senti n'alma um golpe duro
Quando ao muro já no escuro
Meu olhar andou buscando a cara dela e não achou

Minha viola gemeu
Meu coração estremeceu
Minha viola quebrou
Meu coração me deixou

Minha Maróca resolveu prá gosto seu me abandonar
Porque o fadista nunca sabe trabalhar
Isto é besteira pois da flor
Que brilha e cheira a noite inteira
Vem de´pois a fruta que dá gosto de saborear

Minha viola gemeu
Meu coração estremeceu
Minha viola quebrou
Meu coração me deixou

Por causa dela sou um rapaz muito capaz de trabalhar
E todos os dias todas as noites capinar
Eu sei carpir porque minh'alma está arada e loteada
Capinada com as foiçadas desta luz do seu olhar

Mário de Andrade

Para fazer download:
http://www.badongo.com/file/1182954
ou
http://rapidshare.de/files/28402560/Rolando_Boldrin-Almi_Satter_-_Viola_Quebrada.mp3.html

sábado, agosto 05, 2006

Fernando Pessoa por Caetano Veloso

III. PADRÃO
(Segunda Parte: Mar
Portuguez)


O esforço é grande e o homem é pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para diante naveguei.
A alma é divina e a obra é imperfeita.
Este padrão sinala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
O por-fazer é só com Deus.

E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.

E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.

Fernando Pessoa

Para fazer download:
http://www.badongo.com/file/1177355
ou
http://rapidshare.de/files/28230766/Poema_Padr_o.mp3.html

*Contribuição de Rejane Martins. Obrigados.

Mário de Sá Carneiro por Adriana Calcanhotto

O outro

Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o outro.

Mário de Sá Carneiro

Para fazer download:
http://www.badongo.com/file/1177368
ou
http://rapidshare.de/files/28231006/Adriana_Calcanhotto-O_outro.mp3.html

Manuel Bandeira por Tom Jobim

Trem de ferro

Café com pão
Café com pão
Café com pão

Virge Maria que foi isso maquinista?

Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
(trem de ferro, trem de ferro)

Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
Da ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô...
(café com pão é muito bom)

Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matar minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...

Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
(trem de ferro, trem de ferro)

Manuel Bandeira

Para fazer download:
http://www.badongo.com/file/1177490
ou
http://rapidshare.de/files/28231942/Tom-Trem_de_Ferro.mp3.html

quarta-feira, agosto 02, 2006

Lúcio Lins por Chico César

duas margens

quando o tempo
me cobrir os céus
com a anágua suja
da tua espera
e teus lábios
forem duas margens
um
gritando calmaria
outro
clamando tempestade
eu voltarei
de corpo e barco
e por ti
seguirei minha viagem

navegarei
entre teus braços
e segredos
eu
serei teu búzio
tu
serás o meu degredo

Lúcio Lins

Para fazer download:
http://www.badongo.com/file/1170159
ou
http://rapidshare.de/files/28083235/Duas_Margens.mp3.html

Antonio Cicero por Adriana Calcanhotto

Pelos Ares

Não lhe peço nada
mas se acaso você perguntar
por você não há o que eu não faça

Guardo inteira em mim
a casa que mandei
um dia
pelos ares
e a reconstruo em todos os detalhes
intactos e implacáveis

Eis aqui
bicicleta, planta, céu,
estante cama e eu
logo estará
tudo no seu lugar

Eis aqui
chocolate, gato, chão,
espelho, luz, calção
no seu lugar
pra ver você chegar

Antonio Cicero e Adriana Calcanhotto

Para fazer download:
http://www.badongo.com/file/1161506

terça-feira, agosto 01, 2006

Fernando Pessoa por Tom Jobim

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Fernando Pessoa

Para fazer download:
http://www.badongo.com/file/1161006
ou
http://rapidshare.de/files/27861592/Autopsicografia.mp3.html