segunda-feira, julho 24, 2006

Ferreira Gullar por Chico Buarque e Fagner

Traduzir-se

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

Ferreira Gullar

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domingo, julho 23, 2006

Fernando Pessoa por Tom Jobim

Cavaleiro Monge

Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por casas, por prados
Por quinta e por fonte
Caminhais aliados

Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por penhascos pretos
Atrás e defronte
Caminhais secretos

Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por planos desertos
Sem ter horizontes
Caminhais libertos

Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por ínvios caminhos
Por rios sem ponte
Caminhais sozinhos

Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por quanto é sem fim
Sem ninguém que o conte
Caminhais em mim.

Fernando Pessoa

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*Essa foi uma colaboração de Renato Sarti. Obrigados.

sábado, julho 22, 2006

Índice Geral (até 20 de julho)

Ariano Suassuna por Antonio Nóbrega
A morte do touro mão de pau
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/poema-de-ariano-suassuna-musicado-por.html

Arnaldo Antunes
O buraco do espelho
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/poesia-e-msica-de-arnaldo-antunes-o.html

Augusto dos Anjos por Arnaldo Antunes
Budismo moderno
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/augusto-dos-anjos-por-arnaldo-antunes.html

Carlos Drummond de Andrade na voz do próprio Drummond
Consolo na praia
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/poesia-de-drummond-na-voz-do-prprio.html

Carlos Drummond de Andrade por Paulo Diniz
José
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/poesia-de-carlos-drummond-_115047547227471665.html

Cecília Meireles por Fagner
Canteiros
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/poesia-de-ceclia-meireles-musicada-por_16.html

Cecília Meireles por Fagner
Motivo
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/poesia-de-ceclia-meireles-_115047483737467821.html

E.E. Cummings por Zeca Baleiro
Nalgum lugar
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/e.html

Federico Garcia Lorca por Chico Buarque e Fagner
A aurora
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/federico-garcia-lorca-por-chico.html

Fernando Pessoa por Secos e Molhados
Não: não digas nada!
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/poesia-de-fernando-pessoa-musicada-por.html

Hilda Hilst por Maria Bethânia
Canção III
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/poesia-de-hilda-hilst-musicada-por.html

Hilda Hilst por Zélia Duncan
Canção VII
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/poesia-de-hilda-hilst-musicada-por_22.html

Jatobá por Xangai
Matança
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/poesia-de-jatob-musicada-por-xangai.html

João Cabral de Melo Neto em versão para teatro
Funeral de um lavrador
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/poema-de-joo-cabral-de-melo-neto-em.html

João Cabral de Melo Neto por Chico Buarque
Funeral de um lavrador
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/poema-de-joo-cabral-de-melo-neto.html

Manuel Bandeira por Paulo Diniz
Vou-me embora pra Pasárgada
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/poesia-de-manuel-bandeira-musicada-por.html

Paulinho da Viola
Bebadosamba
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/poesia-e-msica-de-paulinho-da-viola.html

Paulo Leminski por Caetano Veloso
Verdura
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/paulo-leminski-por-caetano-veloso.html

Paulo Leminski por Paulinho Boca de Cantor
Valeu
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/paulo-leminski-por-paulinho-boca-de.html

Patativa do Assaré por Fagner
Sina
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/patativa-do-assar-por-fagner-sina-eu.html

Patativa do Assaré por Rolando Boldrin
Vaca Estrela e boi Fubá
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/patativa-do-assar-por-rolando-boldrin.html

Torquato Neto por Gilberto Gil
A rua
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/poesia-de-torquato-neto-musicada-por.html

Vinicius de Moraes
Soneto do amor total
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/soneto-de-vinicius-de-moraes-musicado.html

Vinicius de Moraes por Caetano Veloso
Poema dos olhos da amada
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/poesia-de-vinicius-de-moraes-musicada.html

Vinicius de Moraes por Secos e Molhados
A rosa de Hiroxima
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/06/poesia-de-vinicius-de-moraes-musicada_16.html

Vinicius de Moraes por Tom Jobim e Elis Regina
Soneto de separação
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/vinicius-de-moraes-por-tom-jobim-e.html

Waly Salomão por Jards Macalé
Mal Secreto
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/waly-salomo-por-jards-macal-mal_13.html

Zeca Baleiro
Soneto Erótico
http://musicapoesia.blogspot.com/2006/07/soneto-e-msica-de-zeca-baleiro-soneto.html

quinta-feira, julho 20, 2006

E.E. Cummings por Zeca Baleiro

Nalgum Lugar

nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa

ou se quiseres me ver fechado, eu e
minha vida nos fecharemos belamente,de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas

E.E. Cummings
(tradução: Augusto de Campos)


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Augusto dos Anjos por Arnaldo Antunes

Budismo Moderno

Tome, Dr., esta tesoura, e... corte
Minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa
Todo o meu coração, depois da morte?!

Ah! Um urubu pousou na minha sorte!
Também, das diatomáceas da lagoa
A criptógama cápsula se esbroa
Ao contato de bronca destra forte!

Dissolva-se, portanto, minha vida
Igualmente a uma célula caída
Na aberração de um óvulo infecundo;

Mas o agregado abstrato das saudades
Fique batendo nas perpétuas grades
Do último verso que eu fizer no mundo!

Augusto dos Anjos

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Federico Garcia Lorca por Chico Buarque e Fagner

A aurora

A aurora de Nova Iorque tem
quatro colunas de lodo
e um furacão de pombas
que explode as águas podres

A aurora de Nova Iorque geme
nas vastas escadarias
a buscar entre as arestas
angústias indefinidas

A aurora chega e ninguém
em sua boca a recebe
porque ali a esperança
nem a manhã são possíveis
E as moedas como enxames
Devoram recém-nascidos

Os que primeiro se erguem
em seus ossos advinham:
não haverá paraíso
nem amores desfolhados
Só números, leis e o lodo
de tanto esforço baldado

A barulheira das ruas
sepulta a luz na cidade
E as pessoas pelos bairros
vão cambaleando insones
como se houvessem saído
de um naufrágio de sangue.

Federico Garcia Lorca
(tradução: Ferreira Gullar)


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quarta-feira, julho 19, 2006

Poema de João Cabral de Melo Neto em versão para teatro

"Funeral de um lavrador"
(de Morte e Vida Severina)


Esta cova em que estás com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho nem largo nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio

Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida
É uma cova grande pra teu pouco defunto
Mas estarás mais ancho que estavas no mundo

É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas a terra dada, não se abre a boca

É a parte que te cabe deste latifúndio
É a terra que querias ver dividida

_Aí ficarás para sempre
livre do sol e da chuva
criando tuas saúvas

_Agora trabalharás só para ti
não há meios, como antes
em terra alheia

_Trabalhando nesta terra
Tú sozinho tudo enfrentas
Serás semente, adubo, colheita

_Trabalharás numa terra
que também te abriga e te veste
embora cobrindo o nordeste

_Terás de terra
completo agora o seu fato
e pela primeira vez, sapato.

João Cabral de Melo Neto
(com alterações de Chico Buarque)

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Poema de João Cabral de Melo Neto musicado por Chico Buarque

"Funeral de um lavrador"
(de Morte e Vida Severina)

Esta cova em que estás com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho nem largo nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio

Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida
É uma cova grande pra teu pouco defunto
Mas estarás mais ancho que estavas no mundo

É uma cova grande pra teu defunto parco
Porém mais que no mundo te sentirás largo
É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas a terra dada, não se abre a boca

É a conta menor que tiraste em vida
É a parte que te cabe deste latifúndio
É a terra que querias ver dividida
Estarás mais ancho que estavas no mundo
Mas a terra dada, não se abre a boca.

João Cabral de Melo Neto
(com alterações de Chico Buarque)

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Soneto e música de Zeca Baleiro

Soneto Erótico

15 anos eu passara os primeiros da vida
Sem ter sabido nunca o que era esse furor
Em que a dança do cú deixa n'alma um torpor
Após a ânsia viril na cona a ser remida

Não que a morte tão doce e tão apetecida
Não me impelisse um forte e juvenil ardor
Mas o membro que eu tinha, embora lutador
Não chegava a deixar a dama bem servida

Trabalho desde então com pertinácia rara
Por compensar a perda e o tempo que não pára
Pois o sol no poente ameaça os meus dias

Oh Deus venho rogar-te meu zelo ajudai
Para tão doce agir meus anos alongai
Ou devolvei-me o tempo em que ainda eu não fodia

Zeca Baleiro

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Vinicius de Moraes por Tom Jobim e Elis Regina

Soneto de Separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinicius de Moraes

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sábado, julho 15, 2006

Patativa do Assaré por Fagner

Sina

Eu venho desde menino
Desde muito pequenino
Cumprindo o belo destino
Que me deu Nosso Senhor

Não nasci pra ser guerreiro
Nem infeliz estrangeiro
Eu num me entrego ao dinheiro
Só ao olhar do meu amor

Carrego nesse meus ombros
O sinal do Redentor
Me tenho nessa parada
Quanto mais feliz eu sou

Eu nasci pra ser vaqueiro
Sou mais feliz brasileiro
Eu num invejo dinheiro
Nem diploma de doutor

Patativa do Assaré

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Patativa do Assaré por Rolando Boldrin

Vaca Estrela e boi Fubá

Seu dotô me dê licença
Pra minha história eu contá
Se hoje eu estou em terra estranha
E é bem triste o meu pená
Mas eu já fui muito feliz
Vivendo no meu lugá
Eu tinha cavalo bão
Gostava de campiá
E todo dia aboiava
Na portera do currá

Ê Vaca Estrela
Ô Boi Fubá

Eu sou fio do Nordeste
Não nego meu naturá
Mas uma seca medonha
Me tangeu de lá pra cá
Lá eu tinha meu gadinho
Não é bom nem maginá
Minha bela vaca Estrela
E o meu lindo boi Fubá
Quando era de tardinha
Eu começava aboiá

Ê Vaca Estrela
Ô Boi Fubá

Aquela seca medonha
Fez tudu se trapaiá
Não nasceu capim no campo
Para o gado sustentá
O sertão esturricou
Fez o açude secá
Morreu minha vaca Estrela
Se acabou meu boi Fubá
Perdi tudo quanto eu tinha
Nunca mais pude aboiá

Ê Vaca Estrela
Ô Boi Fubá

E hoje nas terras do sul
Longe do torrão natá
Quando vejo em minha frente
Uma boiada passá
As águas corre dos óio
Começo logo a chorá
Me lembro da vaca Estrela
Me lembro do boi Fubá
Com sodade do Nordeste
Dá vontade de aboiá

Ê Vaca Estrela
Ô Boi Fubá

Patativa do Assaré

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quinta-feira, julho 13, 2006

Waly Salomão por Jards Macalé

Mal Secreto

não choro
meu segredo é que sou rapaz esforçado
fico parado calado quieto
não corro não choro não converso
massacro meu medo
mascaro minha dor
já sei sofrer
não preciso de gente que me oriente
se você me pergunta
como vai?
respondo sempre igual
tudo legal
mas quando você vai embora
movo meu rosto no espelho
minha alma chora
vejo o rio de janeiro
comovo não salvo não mudo
meu sujo olho vermelho
não fico calado não fico parado não fico quieto
corro choro converso
e tudo mais jogo num verso
intitulado
mal secreto

Waly Salomão e Jards Macalé

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Paulo Leminski por Paulinho Boca de Cantor

Valeu

dois namorados olhando o céu
chegam à mesma conclusão
mesmo que a Terra não passe da próxima guerra
mesmo assim, valeu

valeu encharcar esse planeta de suor
valeu esquecer as coisas que eu sei de cor
valeu encarar essa vida que podia ser melhor
valeu
valeu

Paulo Leminski

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quarta-feira, julho 12, 2006

Paulo Leminski por Caetano Veloso

Verdura

De repente me lembro do verde
Da cor verde a mais verde que existe
A cor mais alegre, a cor mais triste
Verde que veste, verde que vestiste

No dia em que te vi
No dia em que me viste

De repente vendi meus filhos
Pra uma família americana
Eles tem carro, eles tem grana
Eles tem casa e a grama é bacana
Só assim eles podem voltar
E pegar um sol em copacabana
Pegar um sol em copacabana

Paulo Leminski

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segunda-feira, julho 10, 2006

Poesia e música de Arnaldo Antunes

O buraco do espelho

o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar aqui
com um olho aberto, outro acordado
no lado de lá onde eu caí

pro lado de cá não tem acesso
mesmo que me chamem pelo nome
mesmo que admitam meu regresso
toda vez que eu vou a porta some

a janela some na parede
a palavra de água se dissolve
na palavra sede, a boca cede
antes de falar, e não se ouve

já tentei dormir a noite inteira
quatro, cinco, seis da madrugada
vou ficar ali nessa cadeira
uma orelha alerta, outra ligada

o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar agora
fui pelo abandono abandonado
aqui dentro do lado de fora

Arnaldo Antunes

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Poesia de Hilda Hilst musicada por Maria Bethânia

A minha casa é guardiã do meu corpo
e protetora de todas minhas ardências
E transmutem palavras, paixão e veemência
e minha boca se faz fonte de prata

Ainda que eu grite a casa que só existo
para sorver a água da tua boca
a minha casa Dionísio te lamenta
e manda que eu te pergunte assim de frente:

Há uma mulher que canta ensolarada
e que sonora múltipla argonauta,
porque recusas amor e permanece?

Hilda Hilst

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Poesia de Manuel Bandeira musicada por Paulo Diniz

Vou-me Embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Manuel Bandeira

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