Cacaso por Djavan
Triste Baía da Guanabara
Ah! Minha Santa Idolatrada
Não fazia quase nada
Pela minha fidelidade
Ah! Só por você
Eu entreguei sem recusar meu coração
Me sentia nos seus braços
Numa grade de cela
Belo Horizonte, sombra de vela
A descrença mais sincera
Pela minha sinceridade
Ah! Você jurou
E prometeu, mas não me deu o seu amor
Eu faria da injúria
A canção mais singela
Água rolada
Céu de aquarela
Te perjuro, te desprezo
Pela minha felicidade
Ah! Você entrou na minha vida
Mas comigo não viveu
Eu sabia, fruta boa
Tá na ponta da vara
Triste baía da Guanabara
Lua branca, noite clara
Pela minha triste cidade
Ah! Sem ter você
Meu coração só quer lembrar a minha dor
Eu queria que soubesse
Que te amar não consola
Cacaso
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Poesias Musicadas
"[...] poesia também é oral no sentido em que, com raras exceções, ou ela consiste em letra de música - o que significa a palavra cantada - ou ela fica melhor quando lida em voz alta." Antonio Cicero
quinta-feira, novembro 30, 2006
Carlos Drummond de Andrade por Belchior
Toada do amor
E o amor sempre nessa toada:
briga perdoa perdoa briga.
Não se deve xingar a vida,
a gente vive, depois esquece.
Só o amor volta para brigar,
para perdoar,
amor cachorro bandido trem.
Mas, se não fosse ele, também
que graça que a vida tinha?
Mariquita, dá cá o pito,
no teu pito está o infinito.
Carlos Drummond de Andrade
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quarta-feira, novembro 29, 2006
Paul Verlaine e Arthur Rimbaud por José Miguel Wisnik
Soneto do olho-do-cú
"as duas primeiras estrofes
são de Paul Verlaine
e as duas últimas
de Arthur Rimbaud"
Obscuro e franzido como um cravo roxo,
Humilde ele respira escondido na espuma,
Úmido ainda do amor que pelas curvas suaves
Dos glúteos brancos desce à orla de sua auréola.
Uns filamentos como lágrimas de leite,
Choraram ao vento inclemente que os expulsa,
Passando por calhaus de uma argila vermelha,
Para escorrer por fim ao longo das encostas.
Muita vez minha boca uniu-se a esta ventosa,
Sem poder ter o coito material, minha alma
Fez dele um lacrimário, um ninho de soluços.
Ele é a tonta azeitona, a flauta carinhosa,
Tubo por onde desce a divina pralina,
Canaã feminino que eclode na umidade
Paul Verlaine e Arthur Rimbaud
Alterações: Zé Celso Martinês e Marcelo Drummond
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segunda-feira, novembro 27, 2006
Vinicius de Moraes por Toquinho e o próprio Vinicius
São demais os perigos desta vida
São demais os perigos desta vida
Pra quem tem paixão principalmente
Quando uma lua chega de repente
E se deixa no céu, como esquecida
E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher
Deve andar perto uma mulher que é feita
De música, luar e sentimento
E que a vida não quer de tão perfeita
Uma mulher que é como a própria lua:
Tão linda que só espalha sofrimento
Tão cheia de pudor que vive nua
Vinicius de Moraes
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*Essa vai para o amigo Marceleza!
Vinicius de Moraes por Toquinho e o próprio Vinicius
Para viver um grande amor
"Eu não ando só
Só ando em boa companhia
Com meu violão
Minha canção e a poesia"
Para viver um grande amor, preciso
É muita concentração e muito siso
Muita seriedade e pouco riso
Para viver um grande amor
Para viver um grande amor, mister
É ser um homem de uma só mulher
Pois ser de muitas - poxa! - é pra quem quer
Nem tem nenhum valor
Para viver um grande amor, primeiro
É preciso sagrar-se cavalheiro
E ser de sua dama por inteiro
Seja lá como for
Há que fazer do corpo uma morada
Onde clausure-se a mulher amada
E postar-se de fora com uma espada
Para viver um grande amor
Para viver um grande amor direito
Não basta apenas ser um bom sujeito
É preciso também ter muito peito
Peito de remador
É sempre necessário ter em vista
Um crédito de rosas no florista
Muito mais, muito mais que na modista!
Para viver um grande amor
Conta ponto saber fazer coisinhas
Ovos mexidos, camarões, sopinhas
Molhos, filés com fritas, comidinhas
Para depois do amor
E o que há de melhor que ir pra cozinha
E preparar com amor uma galinha
Com uma rica e gostosa farofinha
Para o seu grande amor?
Para viver um grande amor, é muito
Muito importante viver sempre junto
E até ser, se possível, um só defunto
Pra não morrer de dor
É preciso um cuidado permanente
Não só com o corpo, mas também com a mente
Pois qualquer "baixo" seu a amada sente
E esfria um pouco o amor
Há que ser bem cortês sem cortesia
Doce e conciliador sem covardia
Saber ganhar dinheiro com poesia
Não ser um ganhador
Mas tudo isso não adianta nada
Se nesta selva escura e desvairada
Não se souber achar a grande amada
Para viver um grande amor!
Vinicius de Moraes
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Paulo Leminski por Itamar Assumpção
Custa nada sonhar
Vem ó minha amada vem me dê a mão
E vamos sair por aí pra ver os preços
Vamos ver se o do queijo ainda é o mesmo
Que vimos ontem quando eu te roubei um beijo
Entre um reajuste e um ágio
Eu atacado você varejo
Te levarei para ver como tudo foi remarcado
Desde que nossos corações bateram juntos
Ao pagar o supermercado
Ao pôr do sol você me dirá
Olha meu amor como tudo sobe
Meu coração por ti até as estrelas
Mas vem minha amada vem
E morre comigo antes que até
Morrer fique mais caro
Afinal de contas
Custa nada sonhar...
Paulo Leminski e Itamar Assumpção
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quinta-feira, novembro 23, 2006
Carlos Drummond de Andrade por Belchior
Nova Canção do Exílio
Um sabiá na
palmeira, longe.
Estas aves cantam
um outro canto.
O céu cintila
sobre flores úmidas.
Vozes na mata,
e o maior amor.
Só, na noite,
seria feliz:
um sabiá,
na palmeira, longe.
Onde tudo é belo
e fantástico,
só, na noite,
seria feliz.
(Um sabiá,
na palmeira, longe.)
Ainda um grito de vida e
voltar
para onde tudo é belo
e fantástico:
a palmeira, o sabiá,
o longe.
Carlos Drummond de Andrade
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*Agradeço a Caiçara do Prosa Cachaça e Poesia Parati por essa.
Fernando Pessoa por Edu Lobo
Meus pensamentos de mágoa
Boiam leves, desatentos
Meus pensamentos de mágoa
Como no sono dos ventos
As algas, cabelos lentos
Do corpo morto das águas
Boiam como folhas mortas
À tona de águas paradas
São coisas vestindo nadas
Pós remoinhando nas portas
Das casas abandonadas
Sono de ser sem remédio
Vestígio do que não foi
Leve mágoa, breve tédio
Não sei se pára, se flui
Não sei se existe ou se dói
Fernando Pessoa
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Cacaso por Simone
Face a face
São as trapaças da sorte, são as graças da paixão
Pra se combinar comigo tem que ter opinião
São as desgraças da sorte, são as traças da paixão
Quem quiser casar comigo tem que ter bom coração
Morena quando repenso o nosso sonho fagueiro
O céu estava tão denso, o inverno tão passageiro
Uma certeza me nasce, e abole todo o meu zelo
Quando me vi face a face fitava o meu pesadelo
Estava cego o apêlo, estava solto o impasse
Sofrendo nosso desvelo, perdendo no desenlace
No rolo feito um novelo, até o fim do degelo
Até que a morte me abrace
Morena quando relembro aquele céu escarlate
Mal começava dezembro, já ia longe o combate
Uma lambada me bole, uma certeza me abate
A dor querendo que eu morra, o amor querendo que eu mate
Estava solta a cachorra que mete o dente e não late
No meio daquela zorra, perdendo no desempate
Girando feito piorra, até que a mágoa escorra
Até que a raiva desate
Cacaso
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segunda-feira, novembro 20, 2006
Capinan por Jards Macalé
Movimento dos barcos
Estou cansado e você também
Vou sair sem abrir a porta
E não voltar nunca mais
Desculpe a paz que eu lhe roubei
E o futuro esperado que eu não dei
É impossível levar um barco sem temporais
E suportar a vida como um momento além do cais
Que passa ao largo do nosso corpo
Não quero ficar dando adeus
As coisas passando, eu quero
É passar com elas, eu quero
E não deixar nada mais
Do que as cinzas de um cigarro
E a marca de um abraço no seu corpo
Não, não sou eu quem vai ficar no porto
Chorando, não
Lamentando o eterno movimento
Movimento dos barcos, movimento
Capinan e Jards Macalé
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Francisco Carvalho por Fagner
Cesta básica
Um quilo de arroz, pra não morrer de fome
Um quilo de água, pra não morrer de sede
Um quilo de pedra, pra não morrer de febre
Um quilo de levedo, pra não morrer de bêbedo
Um quilo de ópio, pra não morrer de ócio
Um quilo de aipim, pra não morrer de esplim
Um tiro no ouvido, pra não morrer de rir
Francisco Carvalho
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segunda-feira, novembro 13, 2006
Lula Freire por Baden Powell (instrumental)
Feitinha pro poeta
Ah! quem me dera ter a namorada
Que fosse para mim a madrugada
De um dia que seria minha vida
E a vida que se leva é uma parada
E quem não tem amor não tem é nada
Vai ter que procurar sem descansar
Tem tanta gente aí com amor pra dar
Tão cheia de paz no coração
Que seja carioca no balanço
E veja nos meus olhos seu descanso
Que saiba perdoar tudo que faço
E querendo beijar me dê um abraço
Que fale de chegar e de sorrir
E nunca de chorar e de partir
Que tenha uma vozinha bem macia
E fale com carinho da poesia
Que seja toda feita de carinho
E viva bem feliz no meu cantinho
Que saiba aproveitar toda a alegria
E faça da tristeza o que eu faria
Que seja na medida e nada mais
Feitinha pro Vinícius de Moraes
Enfim que venha logo e ao chegar
Vá logo me deixando descansar
descansar descansar
Lula Freire
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quarta-feira, novembro 08, 2006
Vinicius de Moraes por Maria Bethânia
Bom dia, tristeza
Bom dia, tristeza
Que tarde, tristeza
Você veio hoje me ver
Já estava ficando
Até meio triste
De estar tanto tempo
Longe de você
Se chegue, tristeza
Se sente comigo
Aqui, nesta mesa de bar
Beba do meu copo
Me dê o seu ombro
Que é para eu chorar
Chorar de tristeza
Tristeza de amar
Vinicius de Moraes
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quarta-feira, novembro 01, 2006
Carlos Drummond de Andrade por Adriana Calcanhotto
Jornal de Serviço
I
Máquinas de lavar
Máquinas de lixar
Máquinas de furar
Máquinas de curvar
Máquinas de dobrar
Máquinas de engarrafar
Máquinas de empacotar
Máquinas de ensacar
Máquinas de assar
Máquinas de faturamento
II
Champanha por atacado
Artigos orientais
Institutos de beleza
Metais preciosos
Peleterias
Salões para banquetes e festas
Condimentos e molhos
Botões a varejo
Roupas de aluguel
Tântalo
III
Panelas de pressão
Rolos compressores
Sistemas de segurança
Vigilância noturna
Vigilância industrial
Interruptores de circuito
Iscas
Encanadores
Alambrados
Supressão de ruídos
IV
Doenças da pele
Doenças do sangue
Doenças do sexo
Doenças vasculares
Doenças das senhoras
Doenças tropicais
Câncer
Doenças da velhice
Empresas funerárias
Coletores de resíduos
V
Papéis transparentes
Vidro fosco
Gelatina copiativa
Cursinhos
Amortecedores
Resfriamento de ar
Retificadores elétricos
Tesouras mecânicas
Ar comprimido
Cupim
VI
Mourões para cerca
Mudança de pianos
Relógios de igreja
Borboletas de passagem
Cata-ventos
Cintas abdominais
Produtos de porco
Peles cruas
Peixes ornamentais
Decalcomania
VII
Peritos em exame de documentos
Peritos em imposto de renda
Preparação de papéis de casamento
Representantes de papel e papelão
Detetives particulares
Tira-manchas
Limpa-fossas
Fogos de artifício
Sucos especiais
Ioga
VIII
Anéis de carvão
Anéis de formatura
Purpurina
Cogumelos
Extinção de pêlos
Presentes por atacado
Lantejoulas
Sereias
Souvenirs
Soda cáustica
IX
Retificação de eixos
Varreduras mecânicas
Expurgo de ambientes
Revólver para pintura
Pintores a pistola
Cimento armado
Guinchos
Intérpretes
Refugos
Sebo
Carlos Drummond de Andrade
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