sábado, novembro 21, 2009

ESPECIAL
Macunaíma: o herói sem nenhum caráter (1928).
De Mário de Andrade por Iará Rennó.

Em um curso de literatura da faculdade de letras da USP Iara Rennó identificou a musicalidade da obra "Macunaíma: o herói sem nenhum caráter" (1928) de Mário de Andrade. Assim nascia o projeto Macunaó.perai.matupi ou Macunaíma Ópera Tupi (2008).

Todas as canções da recriação de Iara são trechos do livro. Então, é só dar play no tocador e seguir as passagens da obra. Utilizei a edição de 1997 da Fondo de Cultura. [Entre colchetes, para entender melhor a cena, acrescento as passagens não utilizadas nas canções. Ao final de cada uma delas cito as páginas].



1. Macunaíma

No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma [, herói da nossa gente]. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. [Essa criança é que chamaram de Macunaíma.]
Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a falar exclamava:
- Ai! Que preguiça!...
e não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força de homem. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém. [E também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus. Passava o tempo do banho dando mergulho, e as mulheres soltavam gritos gozados por causa dos guaiamuns diz-que habitando a água-doce por lá.] No mucambo si alguma cunhatã se aproximava dele pra fazer festinha, Macunaíma punha a mão nas graças dela, cunhatã se afastava. Nos machos guspia na cara. Porém respeitava os velhos e freqüentava com aplicação a murua a poracê o toré o bacorocô a cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribo.
[p.5-6]

2. Mandu-Sarará

[Principiou um calorão que tomou a jangada, se alastrou nas águas e dourou a face limpa do ar. Macunaíma deitado na jangada lagarteava numa quebreira azul. E o silêncio alargando tudo...
— Ai... que preguiça...
o herói suspirou. Se ouvia o murmurejo da onda, só. Veio um enfaro feliz subindo pelo corpo de Macunaíma, era bom... A cunhatã mais moça batia o urucungo que a mãe trouxera da África. Era vasto o paraná e não tinha uma nuvem na gupiara elevada do céu. Macunaíma cruzou as munhecas no alto por detrás fazendo um cabeceiró com as mãos e enquanto a filha-da-luz mais velha afastava os mosquitos borrachudos em quantidade, a terceira chinoca com as pontas das tranças fazia estremecer de gosto a barriga do herói. E era se rindo em plena felicidade, parando pra gozar de estrofe em estrofe que ele cantava assim:]

"Quando eu morrer não me chores,
Deixo a vida sem sodade;
- Mandu sarará,
Tive pro pai o desterro,
Por mãe a infelicidade,
- Mandu sarará ...
Papai chegou e me disse:
- Não hás de ter um amor!
- Mandu sarará,
Mamãe veio e me botou
Um colar feito de dor,
- Mandu sarará ...
Que o tatu prepare a cova
Dos seus dentes desdentados,
- Mandu sarará ...
Para o mais desinfeliz
De todos os desgraçados,
- Mandu sarará ..."
[p. 67-68]

3. Nina Macunaíma

[Assim. Então descia e chorava encostado no ombro de Maanape. Jiguê soluçando de pena animava o togo da caieira pra que o herói não sentisse frio. Maanape engulia as lágrimas, invocando o Acutipuru o Murucututu o Ducucu, todos esses donos do sono em acalantos assim:

"Acutipuru,
Empresta vosso sono
Pra Macunaíma
Que é muito manhoso!..."

[Catava os carrapatos do herói e o acalmava balanceando o corpo. O herói acalmava acalmava e adormecia bem.]
[p. 29]

4. Conversa

[Macunaína chegava. Sentou no fundo da igarité virada, esperando. Quando viu que eles tinham acabado de brincar, falou pro chofer:]

- Faz três dias que não como,
Semana que não escarro
Adão foi feito de barro,
Sobrinho, me dá um cigarro.

[O chofer secundou:]

- Me desculpe, meu parente,
Si cigarro não lhe dou;
A palha o fosfre e o goiano
Caiu n'água, se molhou.
[p. 128-129]

5. Quando mingua a luna

[Estava desconsolado de não ter força ainda e vinha numa distração tamanha que deu uma topada.
Então de tanta dor o herói viu no alto as estrelas e entre elas enxergou Capei minguadinha cercada de névoa.] "Quando mingua a Luna não comeces coisa alguma''
suspirou. [E continuou consolado.]
[p.56]

[Nas conversas das mulheres no pino do dia o assunto era sempre as peraltagens do herói. As mulheres se riam muito simpatizadas, falando que] "espinho que pinica, de pequeno já traz ponta" [, e numa pajelança Rei Nagô fez um discurso e avisou que o herói era inteligente].
[p.8]

[No outro dia Jiguê estava procurando a cabaça quando topou com o tatucanastra feiticeiro chamado Caicãe que nunca teve mãe. Caicãe sentado na porta da toca puxou a violinha dele feita com a outra metade da abobra encantada e agarrou cantando assim:]

"Vote vote coandu!
Vote vote cuati!
Vote vote taiçu!
Vote vote pacari!
Vote vote canguçu!
Êh!..."

[Assim. Vieram muitas caças. Jiguê, reparando. Caicãe atirou a violinha encantada por aí, pegou num porrete e foi matar todo aquele poder de caças que estavam feito bobas. Então Jiguê roubou a violinha do feiticeiro Caicãe que nunca teve mãe.]
[p.150]

6. Jardineiro

[...] [Tinha um pé de carambola e Macunaíma principou arrancando ramos do caramboleiro pra se amoitar por debaixo. Os ramos cortados agarraram pingando água de lágrima e se escutou o lamento do caramboleiro:]

"Jardineiro de meu pai,
Não me cortes meus cabelos,
Que o malvado me enterrou
Pelo figo da figueira
Que passarinho comeu...
- Chó, chó, passarinho!"

Todos os passarinhos choraram de pena gemida nos ninhos e o herói gelou de susto. [Agarrou no patuá que trazia entre os berloques do pescoço e traçou uma mandinga. O caramboleiro virou numa princesa muito chique. O herói teve um desejo danado de brincar com a princesa porém Oibê já devia de estar estourando por aí.]
[p.143-144]

7. Naipi

[Caminhando caminhando, uma feita em que a arraiada principiava enxotando a escureza da noite, escutaram longe um lamento de moça. Andaram légua e meia e encontraram uma cascata chorando sem parada. Macunaíma perguntou pra cascata:
- Que é isso!
- Chouriço!
- Conta o que é.
E a cascata contou o que tinha sucedido pra ela.]
- Não vê que chamo Naipi e sou filha do tuxáu Mexê-Mexoitiqui [nome que na minha fala quer dizer Engatinha-Engatinha. Eu era uma boniteza de cunhatã] e todos os tuxáuas [vizinhos] desejavam dormir na minha rede e provar meu corpo mais molengo que embiroçu. [Porém quando algum vinha eu dava dentadas e contapés por amor de experimentar a força dele. E todos não agüentavam e partiam sorumbáticos.]
Minha tribo era escrava da boiúna Capei [que morava num covão em companhia das saúvas. Sempre no tempo em que os ipês de beira-rio se amarelavam de flores a boiúna vinha na tava escolher a cunhã virgem que ia dormir com ela na socava cheia de esqueletos.]
Quando meu corpo chorou sangue pedindo força de homem pra servir, a suinara cantou manhãzinha nas jarinas de meu tejupá, veio Capei e me escolheu. Os ipês de beira-rio relampeavam [de amarelo] e todas as flores caíram nos ombros [soluçando] do moço Titçatê [guerreiro do meu pai. A tristura talqualmente correição de sacassaia viera na tava e devorara até o silêncio.]
[Quando o pajé velho tirou a noite do buraco outra vez,] Titçatê ajuntou as florzinhas [perto dele] e veio com elas pra rede da minha última noite livre. Então mordi Titçatê.
O sangue espirrou na munheca mordida porém o moço não fez caso não, gemeu de raiva amando, me encheu a boca de flores que não pude mais morder. [Titçatê pulou na rede] e Naipi serviu Titçatê.
[Depois que brincamos feito doidos entre sangue escorrendo e as florzinhas de ipê, meu vencedor me carregou no ombro me jogou na ipeigara abicada num esconderijo de aturiás e flechou pro largo rio Zangado, fugindo da boiúna.]
[p.29-30]

8. Bamba querê

[Entre golinhos de abrideira, uns de joelhos outros de quatro, todas essas gentes seminuas rezavam em torno da feiticeira pedindo a aparição dum santo. À meianoite foram lá dentro comer o bode cuja cabeça e patas já estavam lá no pegi, na frente da imagem de Exu que era um tacuru de formiga com três conchas fazendo olhos e boca. O bode fora morto em honra do diabo e salgado com pó de chifre e esporão de galo-de-briga.A mãe-de-santo puxou a comilança com respeito e três pelo-sinais de atravessado. Toda a gende vendedores bibliófilos pés-rapados acadêmicos banqueiros, todas essas gentes dançando em volta da mesa cantava:]

"Bamba querê
Sai Aruê
Mongi gongô
Sai Orobô
Êh! ...

Ô mungunzá
Bom acaçá
Vancê nhamanja
De pai Guenguê,
Êh! ..."

[E conversando pagodeando devoraram o bode consagrado e cada qual buscando o garrafão de pinga dele porque ninguém não podia beber no de outro, todos beberam muita caninha, muita! Macunaíma dava grandes gargalhadas e de repente derrubou vinho na mesa. Era sinal de alegrão pra ele e todos imaginavam que o herói era o predestinado daquela noite santa. Não era não.]
[p.59-60]

9. Dói dói dói

[...] [Mas recebeu com carinho o herói e prometeu tudo o que ele pedisse porque Macunaíma era filho. E o herói pediu que Exu fizesse sofrer Venceslau Pietro Pietra que era o gigante Piaimã comedor de gente.
Então foi horroroso o que se passou. Exu pegou três pauzinhos de erva-cidreira benta por padre apóstata, jogou pro alto, fez encruzilhada, mandando o eu de Venceslau Pietro Pietra vir dentro dele Exu pra apanhar. Esperou um momento, o eu do gigante veio, entrou dentro da fêmea, e Exu mandou o filho dar a sova no eu que estava encarnado no corpo polaco. O herói pegou uma tranca e chegou-a em Exu com vontade. Deu que mais deu. Exu gritava:]

- Me espanca devagar
Que isto dói dói dói!
Também tenho família
E isto dói dói dói!

Enfim roxo de pancada sangrando pelo nariz pela boca pelos ouvidos caiu desmaiando no chão. [E era horroroso...] Macunaíma ordenou que o eu do gigante fosse tomar um banho salgado e fervendo e o corpo de Exu fumegou molhando o terreno. E Macunaíma ordenou que o eu do gigante fosse pisando vidro através dum mato de urtiga e agarra-compadre até as grunhas da serra dos Andes pelo inverno e o corpo de Exu sangrou com lapos de vidro, unhadas de espinhos e queimaduras de urtiga ofegando de fadiga e tremendo de tanto frio. [Era horroroso.] E Macunaíma ordenou que o eu de Venceslau Pietro Pietra recebesse o guampaço dum marruá, o coice dum bagual, a dentada dum jacaré e os ferrões de quarenta vezes quarenta mil formigas-de-fogo e o corpo de Exu retorceu sangrando empolando na terra, com uma carreira de dentes numa perna, com quarenta mil ferroadas de formiga na pele já invisível, com a testa quebrada pelo casco dum bagual e um furo de aspa aguda na barriga. [A saleta se encheu dum cheiro intolerável. E Exu gemia:]

- Me chifra devagar
Que isto dói dói dói!
Também tenho família
E isto dói dói dói!

[Macunaíma ordenou muito tempo muitas coisas assim e tudo o eu de Venceslau Pietro Pietra agüentou pelo corpo de Exu. Afinal a vingança do herói não pôde inventar mais nada, parou. A fêmea só respirava levinho largada no chão de terra. Teve um silêncio fatigado. E era horroroso.]
[p.62-63]

10. Na beira do Uraricoera

[...] [Noite chegada, enxergando as luzinhas dos afogados sambando manso nas ipueiras da cheia, Macunaíma olhava olhava e adormecia bem. Acordava esperto no outro dia e erguido na proa da igarité com o argolão da gaiola enfiado no braço esquerdo, repinicava na violinha botando a boca no mundo cantando saudades da querência, assim:]

"Antianti é tapejara,
- Pirá-uauau,
Ariramba é cozinheira,
- Pirá-uauau,
Taperá, onde a tapera
Da beira do Uraricoera?
- Pirá-uauau..."

[E o olhar dele espichando espichando descia a pele do rio em busca dos pagos da infância. Descida a cada cheiro de peixe cada noite de craguatá cada tudo punha entusiasmo nele e o herói botava a boca no mundo feito maluco fazendo emboladas e traçados sem sentido:]

"Taperá tapejara,
- Caboré,
Arapaçu passoca,
- Caboré,
Manos, vamos-se embora
Pra beira do Uraricoera!
- Caboré!"
[p.137]

11. Valei-me

[...] [Rumaram pra sudoeste e nas alturas de Barbacena o fugitivo avistou uma vaca no alto duma ladeira calçada com pedras pontudas. Lembrou de tomar leite.] Subiu esperto pela capistrana pra não cansar porém a vaca era de raça Guzerá muito brava. [Escondeu o leitinho pobre. Mas Macunaíma fez uma oração assim:]

"Valei-me Nossa Senhora,
Santo Antônio de Nazaré,
A vaca mansa dá leite
A braba dá si quisé!"

[A vaca achou graça, deu leite e o herói chispou pro sul.]
[p. 52]

12. Rudá

[Nas noites de amargura ele trepava num açaizeiro de frutas roxas como a alma dele e contemplava no céu a figura faceira de Ci. "Marvada!" que ele gemia... Então ficava muito sofrendo, muito! e invocava os deuses bons cantando cânticos de longa duração...]

"Rudá, Rudá!...
Tu que secas as chuvas,
Faz com que os ventos do oceano
Desembestem por minha terra
Pra que as nuvens vão-se embora
E a minha marvada brilhe
Limpinha e firme no céu!...
Faz com que amansem
Todas as águas dos rios
Pra que eu me banhando neles
Possa brincar com a marvada
Refletida no espelho das águas!..."
[p. 28]

13. Taperá

[Plantou uma semente do cipó matamatá, filho-da-luna, e enquanto o cipó crescia agarrou numa itá pontuda escreveu na lage que já fora jaboti num tempo muito de dantes:

NÃO VIM NO MUNDO PARA SER PEDRA

A planta já tinha crescido e se agarrava numa ponta de Capei. O herói capenga enfiou a gaiola dos legornes no braço e foi subindo pro céu. Cantava triste:

" Vamos dar a despedida,
— Taperá,
Taleqüal o passarinho,
— Taperá,
Bateu asa foi-se embora,
— Taperá,
Deixou a pena no ninho.
— Taperá..."

[Lá chegando bateu na maloca de Capei. A Lua desceu no terreiro e perguntou:
— Quê que quer, saci?
— Abênção minha madrinha, me dá pão com farinha?
Então Capei reparou que não era saci não, era Macunaíma o herói. Mas não quis
dar pensão pra ele, se lembrando do fedor antigo do herói. Macunaíma enfezou. Deu
uma porção de munhecaços na cara da Lua. Por isso que ela tem aquelas manchas
escuras na cara.]
[p.165]

14. Boi

[Os trabalhadores estumaram a cachorrada no herói. Isso mesmo que ele queria porque teve medo e chispou bem. Na frente abria a estrada das boiadas. Macunaíma isso vinha que vinha acochado pela sombra, nem turtuveou: meteu pelo estradão. Mais adiante estava dormindo um boi malabar chamado Espácio que viera do Piauí. O herói deu um trompaço nele de tanta fúria. Isso o boi saiu numa galopada louca de susto e lá foi cego manadeiro abaixo. Então Macunaíma quebrou por uma picada sem jeito e se amoitou por debaixo dum mucumuco. A sombra escutava a bulha do marruá galopeando e imaginou que era Macunaíma, foi atrás. Alcançou o boi e pra não perder a pernada fez poleiro no costado dele. E cantava satisfeita:]

"Meu boi bonito,
Boi Alegria,
Dá um adeus
Pra toda a família!

ôh... êh bumba,
Folga meu boi!
Ôh... êh bumba,
Folga meu boi!"

[Porém nunca mais que o boi pôde comer, a sombra engolia tudo antes do bicho. Então o marruá foi ficando jururu ficando jururu magruço e lerdo. Quando passou pelo rincão chamado Água Doce perto de Guarapes, o boi mirou sarapantado bem no meio do areão a vista linda, um laranjal cheio de sombra com a galinha ciscando por baixo. Era sinal de morte... A sombra desenganada cantava agora:]

"Meu boi bonito,
Boi desengano,
Dá um adeus,
Até para o ano!

- ôh.-.. êh bumba,
Folga meu boi!"
ôh... êh bumba,
Folga meu boi!

[No outro dia o marruá estava morto. Foi esverdeando esverdeando... A sombra muito penarosa se consolava cantando assim:

"O meu boi morreu,
Quê será de mim?
Manda buscar outro,
— Maninha,
Lá no Bom Jardim..."

E o Bom Jardim era uma estância do Rio Grande do Sul. Então veio vindo uma giganta que gostava de brincar com o marruá. Viu o boi morto,-chorou bem e quis levar o cadáver pra ela.
A sombra teve raiva e cantou:]

"Arretira-te, giganta,
Que o caso está perigoso!
Quem se arretirou amante
az ação de generoso!"

[A giganta agradeceu e foi embora dançando. Então passou por ali o indivíduo chamado Manuel da Lapa carregado de folha de cajueiro e de rama de algodão. A sombra saudou o conhecido:]

"Seu Manué que vem do Açu,
Seu Manué que vem do Açu,
Vem carregadinho de folha de caju!

Seu Manué que vem do sertão,
Seu Manué que vem do sertão,
Vem carregadinho de rama de algodão!"

[Manuel da Lapa ficou muito concho com a saudação e pra agradecer dançou um sapateado e cobriu o cadáver com a folha de caju e a rama de algodão. O velho já estava tirando a noite do buraco e a sombra toda confundida não via mais o boi debaixo dos flocos e da folhagem. Principiou dançando à procura dele. Um vaga-lume se admirou daquilo e cantou perguntando:]

"Linda pastorinha
Que fazeis aqui?"

"Vim buscar meu gado,
Maninha,
Que eu aqui perdi".

[Foi como a sombra secundou cantando. Então o vaga-lume dançando voou do tronco pra baixo e mostrou o boi pra sombra. Ela trepou na barriga verde do morto e ficou chorando ali.
No outro dia o boi estava podre. [...]
E foi assim que inventaram a festa famanada do Bumba-meu-Boi, também conhecida por Boi-Bumbá]. [...]
[p.154-156]

4 Comentários:

Às 8:29 da tarde , Anonymous rodolfo_muylaert (gmail) disse...

pqp cara como vc achou isso? tem o disco para download eu não consegui achar em lojas... parabéns pelo blog.

 
Às 12:27 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

isso eh demais!
valew

 
Às 9:20 da tarde , Blogger iara rennó disse...

salve Thiago!
cara, todas as letras contextualizadas, com os trechos cortados entre colchetes, trabalhou hein?
amei isso!
:)
I.R.

 
Às 10:07 da tarde , Blogger iara rennó disse...

ah, e tenho mais material pro seu blog viu...

 

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